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1. |
Frágua
09:25
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Criado um martelo num lugar sem prego
Criando um problema pra mais tarde resolvê-lo
O fogo me consome e a terra me faz bem
Mas me dizem que a água é que mantém
Virar água
Quando ponho as mãos nos meus ouvidos
Eu ouço lava, eu ouço vidro
Eu ouço o fogo amarrado à criação
Nem tudo que é perfeito causa só destruição
Água
Confesso que um dia já fui água e corria cansada
Sempre me moldava quando precisava
Eu te destruía quando permeava
Antes de ser fogo precisa-se ser água
Ser água
Corri tanto até não ter pra onde voltar
Essa é a beleza e a tristeza de ir pro mar
A água só limpa quando está em movimento
Parada fica imunda e suja feito corrimento
Água
Sem razão e sem motivo acordei na areia
No corpo de uma cobra da extensão de uma baleia
A serpente é sempre representação de uma mudança
Na mente uma esperança unida a um fardo de vingança
Há sempre tempo de nascer e de morrer
Me ergueram num altar com o fim de me manter
Foi Prometeu quem me achou por isso foi aprisionado
Mas o fogo não se prende ele cresce apaixonado
Pois antes de ser fogo um dia eu fui ar
E antes de ser ar um dia eu fui água
Tudo que eu fui eu carrego em meu estar
Desde o nascimento sempre fui a frágua
Tudo é trabalhoso, o homem não concebe
O olho não se satisfaz, o ouvido não se enche
O que é o que há de ser, o que se fez fará
Nada de novo sobre o chão e sob o sol
Água
Agora o que eu bebo é o mote dos amantes
E que pesar que eu tenho se o sorriso do fumante
Me recebe de bom grado e felicito o meliante
E quando o matar elevo o cheiro inebriante
Quando o fogo queima é por causa de uma guerra?
Ou é por causa de um conflito inerente?
Ou ele cumpre o seu destino nessa terra?
Eu e você não somos tão diferentes
Dentro de mim existe água e existe fogo
Dentro de você existe terra e existe ar
Mesmo com a minha cara de macaco e a sua de lobo
Quando corta, eu choro, quando eu grito, é pra matar
Fui eu quem te criou, sou eu quem te destrói
Do pó a gente nasce e ao pó nós retornamos
E transamos nesse mundo enquanto ele corrói
Feito vagabundos, na noite nos amamos
Viro chuva, viro terra, viro rio
Viro fogo, viro ar, viro nuvem
Água
Criado um martelo num lugar sem prego
Criando um problema pra mais tarde resolvê-lo
O fogo me consome e a terra me faz bem
Mas me dizem que é a água que mantém
Viro chuva, viro terra, viro rio
Viro fogo, viro ar, viro nuvem
Viro chuva, viro homem, viro velho
Viro morto, viro terra, viro rio
Viro água
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2. |
Midas
08:10
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Um representante do medo fez todo um enredo pra ser declarado rei do apocalipse tupiniquim
Tomou o picadeiro, se chamou de guerreiro e foi aclamado de pernas para o ar
Como anjo, algor e jasmim
Em pleno dilúvio, fez do Danúbio seu córrego particular
É tecido no ódio, fez do seu pódio o disclame popular
Com o calor das geladas, deu largada, à nova ditadura popular
Em 1964, um povo acuado, se integrava ao protestar
A uma nova carreira que servia a bandeira e ao regime militar
Mas isso não valeu nada quando desolada, se voltou a gritar
Nas ruas, nas praças, as raças aclamavam mais um voto popular
Foi então, consequente, que um congresso discente foi forçado a opinar
E forjada na desgraça a constituição fez seu lar
E o então baderneiro, mal visto voto brasileiro retornou a reinar
Mas de que vale o entrave se a história é uma novela a reprisar
Dos inúmeros anos de discursos insanos, já iria conquistar
Dentre a família, a ordem e a razão
O belo visto cidadão de porte de armas o iria adorar
O sujeito prudente de pistola na mão, a sociedade irá organizar
E se é imprudente que todo vivente possa legalmente se matar
É pelo cifrão, desde o idoso à nação que iremos nos nivelar
E pela devoção ao Deus cidadão, tudo irá se ajeitar
Pois o Deus que nos fala, por lei, na Bíblia Sagrada, não matarás
É o mesmo Deus que permite a arma, a violência, a insanidade, a segregação, o estupro, o abandono e a absolvição de Barrabás
Tudo ao mesmo tempo, pois este é o Deus do impossível
O Deus da incongruência, o Deus da desavença
Que Jesus condenou com seu amor assumido
Mas de que isso vale, se na autoclave dos interesses do homem, tudo é palatível
E a ignorância é sobrenome para que o ódio pessoal, se torne elegível
Rei Midas
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3. |
Terra
07:13
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Última vista da cidade
O suor seco tem cheiro de terra e de rancor
Tão imperfeita, amarela pro marrom
Eu deixo um pedaço de pele pra cada senhor
Quase morri, mas não, vivi
Tudo está em paz
Já nem lembro mais
De nenhum amor
Nem do capataz
Tudo está em paz
Esquenta essa palha
Espalha essa brasa, senhor
Não há paz
Há corpos de barro no céu
Tão limpos, vazios e frágeis
Muito maiores que eu
Olho pro alto, não vejo nada, embaixo, sim
Sou santo, sou pai, sou filho daqui
Me arde sua mão, me cura seu fogo
Deixo a vida e renasço, levando um estrago
Quase sofri, mas não, te vi
Tudo está em paz, Deus, Terra, meu Pai
Me mostra o que não consegui viver
Tudo está em paz
Descansa esse braço
Bebe essa água, senhor
Não há paz
Há corpos de barro no céu
Tão limpos, vazios e frágeis
Muito maiores que eu
Quantas vezes vou ter de voltar
E negar esse mar
Minha pele, essa terra
Acordei
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4. |
Esqueletos
05:56
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Beberrões, velhos peões, fizeram mal
E declararam guerra ao celestial
Beberrões, amos, peões
Jogaram mal
Apostaram todas fichas no pleito astral
Beberrões, pobre peões, provaram o sal
E tontos gargarejam,
E tontos amam o pó
O que pouco dizem nos fazem dó
Se martirizem, e troquem os lençóis
Beberrões, os ancioes, cuspiram o ar
E fingiram fazer música em qualquer lugar
Beberrões, os palavrões foram escapar
Do peito dos que pouco podem opinar
Sobre a própria arte, que desgaste, vamos aceitar
Da forma que foi feito, melhor se adequar
A canção que plena, foi serena, já não é mais
Pois gênios nascem ocos, pois gênios são audazes
O que pouco dizem nos fazem dó
Se martirizem, finjam que é só
Cadê o abrigo? Cadê a vontade?
Se seu umbigo é bem maior
Não faz sentido, ficou o nó
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5. |
O Brasil Quer Mais
08:53
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Parte 1 - O Julgamento
Infelizmente não é pra qualquer um, comer pedra feito pão
Às vezes vocês até conversam, mas às vezes vocês saem na mão
Tentar ajudar quem precisa faz diferença ou não?
Infelizmente é música violenta e sobre amor
E infelizmente eu julgo e me acho no direito de julgar
Você julga gente de esquerda que acredita em político
Que ficou super mordido quando sua presidente caiu
Que gritou "Fora Temer"
Você julga gente de direita que acredita em polícia
Que não segue suas normas e conceitos
Que é o cínico mais crente que você já viu
Você julga gente que não liga pra política
E que acredita na justiça e que político é tudo ladrão
E que o juiz e o advogado não é ladrão
Mas quando a presidente precisou de vocês, vocês tavam se batendo
Quero ver bater panela e postar texto com o cu na mão
Você julga a menina que se diz muito feminista
Que sai na foto e é muito amiga do acusado de abuso machista
Você julga quem não é branco e que se acha muito especial
Que só dá valor pro que não vem de branco
Mas que namora um branco mente aberta e muito espiritual
Você julga a trans e diz que ela não é mulher
Mas você quer direitos iguais para todos
E festeja a diversidade nas festas da sua cidade
E dizem se o sapato não serve não devemos mudar o pé
Você julga a crente e fala que ela é intolerante
Mas você não namoraria um crente pois eles são todos muito ignorantes
Você julga o negro pobre moralista que dá palestra contra as cotas
Que diz que os negros não podem se diminuir
Que acha que só tem medo de polícia quem é bandido
Logo depois ele pergunta pros amigos se tem blitz hoje indo pro sítio
E a gente vai assim, procurando os erros uns nos outros
Sem ver os nossos próprios erros e contradições
Mesmo agora, você está tentando achar um furo no meu raciocínio
Elaborando uma forma de usar o que eu canto contra mim
Você me diz que o Brasil quer mais
Eu digo quer mais é se fuder
A gente ri e compartilha mais um meme
A gente ri sem nem saber porque
Parte 2 - A Sentença
Infelizmente eu canto e faço música triste
Pois brasileiro às vezes é um bicho triste
"Atos bondosos nem sempre são sábios
Atos maldosos nem sempre são tolos
Mas devemos lutar pra fazermos o bem uns pros outros"
Infelizmente é música longa
Infelizmente não é aquela pra fugir da realidade
É aquela pra lutar com a realidade
Outro dia um músico que foi exposto no facebook
Me procurou pra saber porque eu disse pra não gravarem com ele
Se eu conhecia a menina, se eu conhecia ele
Se eu sou um justiceiro ou sei lá o que
E resolveu me ameaçar e me ameaçar pra que?
O rio carioca passava sob os nossos pés
E o novo líder da Rocinha era de GV, o que me fez lembrar
Do dia que o vizinho bateu na mulher
Ela pediu pra eu chamar a polícia
Então ele passou algum tempo na cadeia
Depois olhava pra baixo, andava envergado e envergonhado
Ninguém conversava com ele e ele não tinha um emprego
E eu me senti culpado, mas por que?
Eu vi a acusação, o crime e a punição
E talvez eu me esqueci de ver o perdão
Mas no final das contas o único perdão que importa
É o perdão da mulher abusada, surrada e assassinada
Quando perguntei pra minha melhor amiga ela disse que eu fiz certo
E que homem que bate em mulher tem mais é de se fuder
Depois foi criticar o senhor que disse que bandido bom é bandido morto
"Os humilhados serão exaltados, os exaltados serão humilhados"
E quando me perguntam se eu acho o linchamento certo
Eu lembro do condenado a 181 anos por 37 estupros
Que conseguiu direito pra cumprir em prisão domiciliar
Como diz pras pessoas procurarem a polícia?
Como diz que linchamento online não é certo?
Eu não sei como diz, eu não sei o que é certo
"A violência sexual não começa e acaba com estupro"
Ela começa na nossa educação, na nossa arte e na nossa TV
E acaba com mais um corpo jogado no esgoto
A gente lê a notícia e logo quer esquecer
E na festa ouve um Michael pra fingir que não quer ver
Depois compartilha o nome da Marielle Franco
Que ninguém conhecia, pra nunca ninguém esquecer
Mais uma que precisou de morrer pra você saber
Enquanto isso todos sabem quem são os merdas e quais são os seu nomes
E todo mundo acha que tá certo, é difícil demais
Você me diz que o Brasil quer mais
Eu digo quer mais é se fuder
A gente ri mas por dentro a gente chora
E não choramos à toa, não choramos à toa
Parte 3 - O Sacrifício
Infelizmente eu canto como a vida é, imperfeita como a vida é
Sua arte é você e o que é real nunca vai morrer
E o país se comendo de dentro pra fora
Infelizmente não é todo mundo que tem o privilégio de ficar em cima do muro
O último país ocidental que aboliu a escravidão
Derrubou a sua primeira presidente mulher
Prendeu seu primeiro presidente operário
Infelizmente, infelizmente
Não é possível resolver os problemas do país com uma música
Eu sei bem que o mundo não é a USP, tem de ter consciência
Infelizmente o povo não come conceito
Infelizmente o povo não come educação
Infelizmente o povo não come arte
Infelizmente você julgou quando o homem deu o peixe e não ensinou a pescar
Mas você não pensou que pra pescar você precisa de antes estar vivo
Infelizmente o povo não come hospital
Infelizmente o povo não come futebol, não come carnaval
Ai meu Brasil
Vem mais uma copa, vem mais uma eleição
Eu tenho lutado a minha vida inteira
Eu tenho brigado a minha vida inteira
E por quê? Por quem eu amo? Por mim? Pelo nosso país?
Eu tenho tentado pensar além do tabuleiro, além da raiva e além do medo
Tentando ver o mundo com amor, mas às vezes é difícil demais, é difícil demais
Às vezes eu acho que o mundo não tem solução
Jesus não falou pra gente resolver o mundo
Ele não disse mudai-vos uns aos outros, ele disse amai-vos uns aos outros
Mas, Deus, como é difícil
A gente tem de se sacrificar por quem precisa
E ser responsável pelas próprias ações
E ser punido pelos próprios erros
E se aplaudir sozinho pelos próprios acertos
Tem muita gente por aí que só quer viver em paz, sem treta e sem briga
Mas o homem que quer paz e tem consciência limpa é porque tem má memória
Tantos corpos mortos e espíritos jazem aqui
Com amores e sonhos e dores iguais os meus e os seus
Eles foram esquecidos e nós também seremos, no caminho do sacríficio
Hoje eu corro o risco de todos pararem de me ouvir porque eu fiz essa música
Eu acredito que se você é responsável pelas suas ações, se você se sacrifica
Mil cairão à sua esquerda, dez mil à sua direita
Mas não chegarão a você
A verdadeira bondade está no sacrifício pela pessoa desconhecida
Fazer o bem não é fazer o bem quando não te custa nada
O caminho para o bem é o do sacrifício
É assim que eu pago de volta todos que um dia se sacrificaram por mim
O sacrifício de uma mãe
O sacrifício de uma política assassinada
O sacrifício de um policial
O sacrifício de uma ex-presidente
O sacrifício de um ex-presidente
E você acusado de abuso, o seu sacrifício
Para um dia a sua mãe, a sua filha, a sua namorada não ter que passar
Pelo que a mulher do seu lado passou
Eu te mostro o caminho, mas é preciso coragem pra se sacrificar
É preciso coragem
Prometeu
"Meu irmão, meu inimigo
Debruçado sobre o balcão"
Infelizmente é uma quinta-feira comum
Mas estamos vivos pra lutar e pra cantar
Que você me disse que o Brasil quer mais
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6. |
Vejo Uma Lua No Céu
06:46
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Ah, que vontade de ficar bem perto, que saudade que já me dá
Que vontade de ficar bem perto, que vontade de voltar
De uma forma ou de algum jeito
Se você pensar direito
Eu também me sinto preso
Em Maceió e BH
Flui feito um rio calmo
Sempre segue o curso pra algum lugar
Feito todos meus amigos
Que aprenderam desde cedo
A não cobrar por nada que eu
Não pudesse entregar
E assim eles fizeram
Mestres n'arte de esquecer e perdoar
Se lembra que a gente sonhava acordado?
E dava risada com os todos os dentes
Nos cantos das ruas, nos bairros do centro
Debaixo da chuva, passado e presente
A nossa história, a história dos erros
Mas de alguma forma, pra nossa surpresa
Abriu o caminho, batendo cabeça
Pros nossos amigos fazerem o mesmo
Ontem eu sonhava com você
E de onde eu estava eu não conseguia ver
Eu quero acreditar que foi um sonho bom
Eu não me lembro bem
Eu não me lembro bem
Desde de quando era pequeno
Sempre fui de imaginar
Tudo andava em direção a Ele
Quem mais poderia?
O pó que dorme em nossa roupa
O ponto cego vivo em toda vocação
De dois mil e treze a dois mil e dezesseis
Eu quase não lembro, o que foi que a gente fez?
Entre o seu curso e a formatura
Tudo misturado e a copa do mundo
Se hoje eu saio enchendo o peito
Que todo esse tempo eu já nem me lembro
E como eu vejo tudo diferente
E tão otimista desde que eu saí daqui
Hoje eu sonhava com você
De onde eu estava eu não conseguia ver
Eu quero acreditar que um sonho bom
Eu não me lembro bem
Eu não me lembro bem
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7. |
Álamo
06:09
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Sumiu de novo, fez de louco, foi beber
Deu de ombro pras razões
Rezou o terço, foi ao berço renascer
Argumentou desilusões
Comprou cimento, moldou vento, bateu chão
Levantou decepções
Matou o dia, alegria, água e pão
Comunhou com os peões
Fugiu de todas suas projeções
E rogou alto, mas bem alto pra ouvir
Sua voz nas multidões
Que distraídas, mal ouvidas
Não serviu pra ser palco de questões
Que valem nada, quase nada
Tão vazio, foi o tempo dos sermões
De pele rija, vestiu brisa, passou frio
E foi contar os corações
Sorriu e pois os dentes pra brilhar
Curtiu cachaça no ribeirão
Anil, vermelho, roxo, alto mar
Partiu-se em um bordão
Sumiu de novo, fez de louco e bebeu
Deu de ombro pras moções
Rezou o terço, foi ao berço e renasceu
Justificando suas ações
Comprou cimento, moldou vento, se bateu
Demoliu conspirações
Matou o dia, a ventania o recebeu
Comungou com os peões
Rogando alto, mas bem alto pra ouvir
Sua voz nas multidões
Que distraídas, mal ouvidas não serviram
Pra ser palco de questões
Que valem nada, quase nada
Tão vazio, foi o tempo dos sermões
De pele rija, vestiu brisa, passou frio
E foi cortar os corações
Sorriu e pois os dentes pra brilhar
Curtiu cachaça no ribeirão
Anil, vermelho, roxo, alto mar
Partiu-se em um bordão
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8. |
Anjo
02:02
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Eu
Tão cansando de ser
Tudo aquilo que eu
Escolhi pra viver
Finalmente perdi
O medo então de partir
Pra uma quinta estação
Eu não devia mas estou
Emocionado em cair
E não sentir o chão
Nunca mais eu vou sorrir
Tenho certeza que não
Eu
Agora tenho uma filha
Um dia vou dizer pra ela
Quando eu mais chorei na vida
A vida às vezes faz sentido
Mesmo nestes dias cinzas
Eu vi um anjo ser menino
E tinha o mais belo sorriso
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9. |
Voz
14:28
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Feito todo mundo eu também
Vim das cavernas onde eu comecei a cantar antes mesmo de falar
E nós dançamos no escuro
Ao som da nossa voz
No início era o verbo
E quando eu procurei alguém que não sabia o que era hesitar
Ao contrário eu encontrei você
Eu tive de regressar
E me tornar o que era eu mesmo novamente
Alguém que começou a cantar antes mesmo de falar
E o meu canto viajou por aí
E chegou aos seus ouvidos, eu ouvi dizer
Uma voz feita de areia e de cola
Fronteiras não podem deter
Eu até te ouvia às vezes
Na boca de outras pessoas
Mas sua voz não me tocava mais
Eu não te entendia mais
Uma saudade desenhada nas paredes
Da caverna da memória
Ela engatinha assustada e se esconde
Do pensamento caçador
Esse sou eu
Primeiro eu me esqueci do seu cheiro
E sem o rastro do seu cheiro
Eu me esqueci de vez da sua voz
A cantora era linda
Mas sua voz que a fazia superar as belezas demais
E os aplausos vinham ao seu palco
E ela voava mais alto
E pensava que todos tem uma voz
As fronteiras tem o seu som
E os espíritos e as memórias
Também possuem o seu tom
Ela era chamada a mais talentosa equilibrista
A acrobata da voz
E o seu medo maior
Era que um dia iria acordar sem poder cantar
Pois todos lhe tratavam
Como se ela fosse uma voz
E esse dia chegou
Quando acordou estava rouca
Já não cantava do mesmo jeito
E sem o rastro da sua voz não se lembrava quem era mais
Nos últimos dias ela se viu desperdiçada
Ninguém via o seu show e quem foi reclamou
Pouco tempo depois uma limousine desceu dos céus
E ela foi levada pro lugar que te deu e levou a sua voz
E os fãs hoje cantam
"A espada que luta contra o mal
Morre com a lâmina cega"
Deus me deu essa voz pra que eu pudesse
Fazer o mesmo que São Patrício um dia fez
E que Brâman esteja à minha esquerda
E que Guaraci esteja à minha direita
E que Shangdi esteja à minha frente
E que Alá esteja às minhas costas
E que Cristo esteja na boca de todos que falarem de mim
Na mente de todos que pensarem em mim
Nos olhos de todos que olharem pra mim
Nos ouvidos de todos que me ouviram sequer uma vez
Que Deus esteja no coração
De todas as pessoas que a minha voz tocar
A voz de Deus
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10. |
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Tudo que você cantou e as vidas que você tocou
Estão enterradas, embaixo da terra
E as frases que escreveu e as pontes que construiu
Estão esquecidas, poeira no ar
E quem você conheceu e todos que ajudou
Estão muito longe, queimaram seu fogo
E a pessoa bonita que um dia levou o seu coração
Não está na história, seu nome sumiu
No fundo do mar
Mas não perca a esperança
O inimigo pode até te matar
Mas a vida te deu muita força
Pra lutar
E alguém vai saber
E alguém vai cantar
E alguém vai lutar
Por todas as coisas que você um dia lutou
E no fim vai vencer, vai vencer
A espada que luta contra o mal morre com a lâmina cega
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Lupe de Lupe Belo Horizonte, Brazil
Gustavo, Jonathan, Renan e Vitor são uma banda de loud-rock ou noise-pop ou punk experimental de Belo Horizonte. O grupo faz parte do movimento "Geração Perdida de Minas Gerais".
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